Professores e cenas

Estou oficialmente de férias.
O que diferenciou este ano dos outros anos foi talvez a perspectiva que fiquei dos professores e da vida que eles levam.
Leio notícias do descontentamento dos professores face aos problemas que têm profissionalmente, etc. Os alunos não ligam a nada disso. E eles também não "podem" falar desses problemas, aliás, é um assunto não comentado, aliás, os problemas dos stores é de facto um não-assunto.
Por vezes, lá acontece ouvirmos com uns desabafos dos mesmos face à indignação que têm ao sistema de ensino,e mesmo ao ministério da educação.
Tive professores razoáveis. Vagueava na minha mente muitas vezes como é a vida deles. Noto que tinha professores que aparentam ser calmos, contudo outros que parecem uns frustrados com tudo e todos mas que fazem de tudo para que não se note. Noto que uns vivem infelizes, inseguros e talvez nós não tenhamos nada a ver com isso. E não temos, mas nada impede que não pensemos como é que eles vivem a vida.
Mas é um professor. É uma pessoa com quem convivemos todos os dias e ao fim de um ano lectivo acabam por ser imensos meses, muitas semanas e demasiadas horas. E é sempre estranho apenas saber o nome daquela pessoa e também saber somente o que ela nos transmite, neste caso a matéria. A relação é limitada e não podemos interferir em mais nada a não ser sobre assuntos que não fujam da disciplina em si.
É legítimo pensar como é que eles são e a perspectiva deles face à vida, porque são adultos e certamente mais sábios que todos nós portanto leva-me a pensar que valeria a pena conhecê-los melhor, numa perspectiva completamente diferente.
Por enquanto, para eles somos "só mais um aluno", mas um professor que valha a pena marca-nos para sempre.

Comentários

Pedro Pisco disse…
Infelizmente, e infelizmente porque são, sobretudo, educadores, fazem parte de uma classe profissional que ao longo das últimas décadas tem vindo a ser desconsiderada. Demasiado desconsiderada.
Partimos de um radicalismo onde o professor era quase um Deus para os alunos, que tudo podia, que castigava fisicamente, por vezes com violência, que era dono e senhor do futuro dos alunos, para uma realidade onde são quase a escória da sociedade, vitimas de bulling, das mais diversas formas de violência, essa, vinda de todas as frentes. Dos alunos, dos pais, do Estado...
É, cada vez mais, uma profissão onde impera a necessidade de ter coragem, um estômago de ferro.
Eu podia ter sido professor e era esse, o que o futuro do meu curso, mais provavelmente, me reservava.
Mas sempre o disse: Só daria aulas, se estivesse a passar fome, porque nunca me sujeitaria a tamanha indignidade.
Abraço, Alex. É nestes textos que podemos admirar a tua lucidez e algo cada vez mais raro, na tua geração.
Parabéns.
S* disse…
Um bom professor marca-nos para sempre. Saudades de alguns.
Filipe Liberato disse…
O bom/mau da universidade é que muito raramente te vais lembrar do nome dos teus professores ou sequer ter tempo para conviver durante a aula. Não sabes o nome e é entrar, ter aula e sair.
Também há professores que ficam mas são raras as vezes!
Anónimo disse…
A relação aluno/professor é totalmente conjugável. Os professores e alunos estão em contacto directo durante muito mais tempo do que com as próprias famílias. Por isso, é muito mais saudável para ambos que haja uma boa relação. Falo por experiência própria. Sempre tive a tendência em criar amizades e a sentir-me bem com pessoas muito mais velhas do que eu, isto reflectiu-se na escola, em que era rara a vez que não estabelecesse uma relação de amizade com um professor. Sendo que, com alguns até chegávamos a combinar coisas fora das aulas e hoje em dia ainda mantenho contacto. Tudo isto criava um ambiente espectacular entre aluno/professor que é de louvar.

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