Fragilidades

As pessoas têm diversas dificuldades em acreditar que a morte faz parte da vida. Que é a conclusão. Que é o final. Poucos falam disso. E se falarem é um assunto que não é assim muito assustador porque é normal ser falado. É um tema comum, dá origem a imensos debates e é muitas vezes usado para o humor.
Quando as pessoas estão à beira da mesma ou por acaso não a atingem de um momento para o outro só mesmo pelo factor "sorte" as ideias mudam acerca desse assunto.
Hoje aconteceu uma situação insólita que não vale a pena mencionar qual mas que me deixou a pensar em certas coisas.
A fragilidade da vida é muito maior do que pensamos e a fragilidade das pessoas perante a natureza humana é ainda maior.
Hoje estamos aqui mas amanhã podemos não estar. O mesmo acontece em quem está em nosso redor. Não sabemos o que se pode passar connosco, não sabemos o que nos espera daqui a umas horas, daqui a uns dias, daqui a umas semanas. Prevemos o futuro como se tivéssemos a certeza que estaremos cá, aliás, quase que acreditamos que a imortalidade existe, mas tudo isto acontece no nosso sub-consciente. Porque na prática sabemos que não é verdade. Porque não imaginamos um fim. E estamos constantemente em perigo. Mas num perigo que não é abordado porque é um perigo inevitável mas existente. Viver é por si só uma loucura.
E o fascinante é que continuamos a viver, independentemente de não sabermos o que vem aí. A acreditar que vai ser tudo como planeamos porque é assim que deve ser.
Se há pessoas que não sabem lidar com a vida elas terão que saber lidar com a morte? 

Comentários

Pedro Pisco disse…
Nós somos, provavelmente, o único ser vivo com uma pré-consciência de morte.
A morte, deve ser desmistificada, encarada como algo natural e que faz parte do fim de ciclo a que chamamos vida.
Por isso, defendo que todos os seres humanos deverão ser preparados para a morte, desde muito cedo, encará-la como algo natural, algo a que não podemos escapar.
A morte, em si, faz parte da vida. O que resta de nós, quando atravessamos essa barreira, também é vida. Os nossos restos, transformam-se, quer pela decomposição, quer pela sublimação e fundem-se com o resto do Universo, servindo, de matéria prima para que outros seres, outras vidas iniciem e prossigam com o seu próprio ciclo.
Num estado de alguma consciência, ou não, nada se cria com o nascimento e nada desaparece com a morte. Somos apenas uma composição de elementos com a idade do Universo que em algum momento da evolução, nos fundimos em determinada ordem.
Somos um produto das estrelas e ficaremos por cá, eternamente, onde cada parte de nós, fará sempre parte de uma rocha, uma planta, uma bactéria, um vírus, outro ser humano...
Existem tantos átomos de oxigénio no Universo, como os que existiam no início. Estes apenas se vão conjugando de formas diferentes ao longo da evolução... Como nós, feitos de todos os elementos da tabela periódica.
Este sublime caos, ordem que não entendemos, e em que, por um breve momento nos dá uma conjugação energética a que chamamos consciência.
É confortável acreditar na vida eterna, naquilo a que chamamos Deus e que não passa de um bode expiatório para tudo o que não entendemos.
Não bastará o conforto de sabermos que cada parte de nós, por cá, permanecerá para sempre? Eventualmente sem consciência, eventualmente, no mesmo estado em que nos encontramos num sono sem sonhos...
TK disse…
Isso tudo é verdade, mas é um assunto que nem vale a pena pensarmos muito porque é quase como discutir o sexo dos anjos, ficamos sempre na mesma. Penso que há realidades mais assustadoras que podemos vir a viver num futuro próximo que ninguém pensa ou ninguém quer pensar como o fim da nossa civilização assim como nós a conhecemos nas próximas décadas porque o nosso modelo de vida global não é sustentável o que também já foi previsto pela NASA ou a situação que estamos a viver hoje em dia economicamente a nível global e uma 3a Guerra Mundial também é uma possibilidade futura principalmente quando 3 grandes super potencias neste momento estão de costas voltadas, e se isso for uma realidade também o mundo poderá mudar radicalmente.
Ambos os casos já aconteceram dezenas de vezes na historia da humanidade, gostava de ouvir o que pensas em relação a esses assuntos que na minha opinião são bastante importantes e também possíveis futuros
Vitório Rei disse…
Ensaio sobre a morte

Reparem
a morte é sempre a dos outros
nunca é a nossa
porque quando for a nossa
ela só é nossa
porque os que ficam vivos o dizem,
sendo que os vivos
continuam vivos,
não para sempre, é certo,
e os mortos
estão mortos para sempre,
o que também é certo.

E quando morremos
apenas alguns de nós têm tempo
de dizer "vou morrer"
e nunca alguém vai dizer
"morri"
pois são os que ficam vivos
e que nos olham mortos
que vão dizer que morremos.

Por isso
a morte é sempre a dos outros
e é apenas a morte
nada mais do que isso.

Mas,
porta-vozes dos entes celestiais
continuam a pregar na Terra
que todos os corpos têm alma
e que quando ela se desliga do corpo
fica a aguardar no etéreo
pelo dia do Juízo Final
enquanto o corpo fica arrumado
no cemitério.

E também dizem
que essas almas
serão recompensadas
no dia do Juízo Final
do bem que fizeram,
e não do mal,
enquanto transportaram
um corpo na Terra.

E é por isso
que quando a alma se desliga do corpo
os vivos acendem velas em seu redor
para apaziguar a dor
e neste ambiente de velório
encomendam a alma ao criador
implorando-lhe que a leve para o paraíso
sem passar pelo purgatório.

E aqueles porta-vozes garantem
que as almas que praticaram o bem
enquanto transportaram um corpo na Terra
vão mesmo para o paraíso sediado no além.

Por vezes pergunto-me
se não faltará o juízo
a estes seres terráqueos
que esperam ir viver para o paraíso
como batráqueos,
ou como qualquer outro animal sem dor,
ou será que no paraíso, no além,
somos todos feitos de vapor
(reconheço, porém,
que enquanto o homem é vivo,
precisa de um deus,
seja ele qual for)

Vitório Rei (Perulheira.blogspot.pt)

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