Os 15 anos intratáveis

Aos quinze anos o coração já cresceu, mas ninguém repara. Não o deixam bater como devia. As crianças crescem e os adultos envelhecem. E o que faz o adolescente? Coitadinho, não tem hipótese: adolesce.
Aos quinze anos, o mal é este: nem se é tratado como adulto (como se queria) nem se é tratado como criança (o que sempre consolaria). Não se é tratado. Ponto final.
Os 15 anos são intratáveis. Os mais novos - a malta do armário, enfrentando o absurdo da puberdade - não têm nada, mas nada a ver.
Os mais velhos olham para quem tem 15 anos como se olha para quem tem lepra. Restam apenas as outras pessoas com 15 anos, mas essas estão demasiado ocupadas com ter 15 anos para poderem reparar nas outras almas com as quais partilham tal aflição. Só apetece chorar. É o que se faz.
Chora-se muito. Aos 15 anos tudo é muito importante. É-se uma pessoa nova pela primeira e única vez na vida e no mundo, difícil e grande, percebe-se e faz-se pesar tal qual ele é. (A partir dos 16 anos já não se aguenta e finge-se que é mais fácil ou mais pequeno.)
Aos 15 anos tudo é muito tudo, e é tudo ao mesmo tempo. Há muitas coisas que se querem muito e sofre-se muito por não as ter e brada aos céus o quanto se precisa realmente delas e parece impossível que ninguém perceba. E é incrível como toda a gente se junta para nos impedir de alcançá-las. 
E é muito triste saber que há de ser assim durante toda a vida, que é quanto dura ter 15 anos. Mas a luta continua.
Aos 15 anos tudo é muito, simplesmente. Qual simplesmente! Complicadamente. Tudo é muitíssimo. É preciso muito e é muito preciso. É tudo muito lindo e muito difícil e muito injusto e muito urgente e pronto - será isto tão difícil de perceber? O mundo é mesmo como se vê quando se tem 15 anos, só que acabamos por desistir de vê-lo assim, porque custa tanto. (...)
Como fazer então? Como fazer quando se tem 15 anos? A primeira indicação de guerrilha é psicológica. Mentalizem-se: quinze anos é muito tempo. É muito ano já. Ter vivido quinze anos, ter chegado, já é qualquer coisa. Parabéns. Agora chega de peneiras. A luta continua. 
Sim, o que está a acontecer à liberdade? É preciso lutar por ela. É preciso conquistá-la ao inimigo.
Neste caso o inimigo sofre a agravante de ser benevolente. É certo que os pais só querem o nosso bem, só que não é bem o bem que nós queremos. 
Os pais têm de ser encarados como ditadores que, por serem bem-intencionados, não deixam de ser fascistas.
E vice-versa, seguindo a melodia «Por morrer uma Andorinha, Não acaba a primavera»; lá por serem uns terríveis fascistas. opressores da liberdade, não deixam de ser quem eram. 

Faltam 5 meses para completar 17 anos de vida, mas este texto não deixa de fazer grande sentido na minha vida. Mas que sentido.

Comentários

Anónimo disse…
Lembro-me de ter dado este texto em português...e adorei :) grandes verdades!

Sara (musical)
Anónimo disse…
Amigo Alexandre,

Teres 16 anos não é desculpa para praticares crimes. O plágio é crime. Era bonito (sobretudo para quem diz que quer seguir Comunicação Social) que divulgasses sempre as fontes de excertos ou totalidades de obras de outros autores.

Não sei, fica a sugestão...
Alex Fernandes disse…
Obrigado pela sugestão. Quero ser punido!
O texto é uma crónica do Miguel Esteves Cardoso.
Vanita disse…
Gostei do texto e ia perguntar de quem era :)

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