" A Entrevista" de Março - Vânia Custódio


Vânia Custódio tem 33 anos e é jornalista. Iniciou a sua vida profissional há doze anos. Começou por estagiar na Lusa por quatro meses. Enquanto terminava a tese de licenciatura, de Maio a Agosto de 2001 estagiou também na Capital.
Em 2002 seguiu para o 24Horas onde permaneceu 8 anos até ser anunciado o fim das suas publicações. De seguida trabalhou no Jornal Record e após um mês no respectivo foi convidada para pertencer à equipa da revista TVMais onde permanece até agora. Além da TVMais, também faz parte da redacção da revista Telenovelas.





De que maneira apareceu a ideia de estudar jornalismo na sua vida? 

Aos 10 anos percebi que era isso que queria ser e a vontade não se esvaneceu. Nessa altura ainda era uma fantasia, que incluía máquinas fotográficas ao pescoço e roupa de expedição ao jeito de Indiana Jones. Mas era do bloco e caneta na mão que eu mais gostava. Ainda é.

Começou por estagiar na Lusa e na Capital. Guarda boas recordações desses meses?

Sim, claro que sim. Foram os meus primeiros passos em busca do sonho. Mas foram bem duros, tenho de admitir. Entrar nesta profissão não é fácil e, nessa altura, trabalhava de graça e nem sempre cai em graça. Mas aprendi imenso e, ainda hoje, uso muitos desses ensinamentos na minha forma de trabalhar. 

Antes de começar a trabalhar no 24Horas, o que pensava do jornal?

Tricky question. Não gostava do jornal, como muita gente. Aliás, no dia em que fui à primeira entrevista, comprei o jornal e fiquei em estado de choque. A manchete era: "Foram estes os sacanas!" [sobre dois presumíveis autores de um assassínio brutal na Damaia, em 2002]. Lembro-me de estar com o jornal na mão e pensar se era mesmo esse o caminho que queria seguir em termos profissionais. Felizmente, tomei a decisão certa.

Acha que os portugueses têm uma visão errada dos jornalistas das revistas cor-de-rosa?

Sim e não. Acredito que a visão correcta é a dos leitores, é para eles que se escreve. No entanto, apercebo-me que muitos não compreendem que um jornalista será sempre um jornalista, seja num jornal de referência, numa rádio local ou numa revista cor-de-rosa. Como em todo o lado, há bons e maus profissionais. Mas em Portugal temos a tendência para acreditar que o cinzento é mais sério. Nem sempre é assim.

Tendo em conta que trabalha numa revista de televisão, o que mais lhe agrada no pequeno ecrã? 

Nos últimos anos habituei-me a ser telespectadora a título profissional e quase não vejo televisão a título pessoal. Ainda assim, dou por mim a ver os reality shows da TVI, tal como fazia antes de começar a trabalhar na área. Gosto de ver séries norte-americanas, como "Lost", "Era uma Vez" ou "Terra Nova". Uma vez por outra, espreito as novelas, sobretudo as brasileiras. E filmes, vejo muitos filmes, mas isso já não é um formato concebido para o pequeno ecrã.

Qual a figura pública que mais lhe custou entrevistar? E porquê?

Ana Carolina, a cantora brasileira. Não por culpa dela, mas porque fui avisada meia hora antes de a entrevistar e não tive tempo para me preparar. Como não a conhecia, não me senti bem em estar a fazer aquela entrevista que, no fundo, nem correu mal. Foi uma das primeiras entrevistas que fiz quando comecei a trabalhar no 24horas. 

A opinião de algumas pessoas acerca dos jornalistas é que mentem à descarada apenas para vender. Concorda?

Não, não concordo. Nem poderia. É verdade que há formas de se vender uma notícia e isso é um processo interessante, mas penso que se trata de um jogo que não é alheio ao leitor. E a verdade tem de estar sempre à vista. 

Dos seus 12 anos de carreira destaca algum ano em especial? Ou algum mês?

Ainda não fiz 12 anos, mas para lá caminho. Gostei de todo o percurso mas não posso negar que trabalhar em 2004 foi especial, sobretudo com o Europeu a decorrer em Portugal. Mesmo sem fazer jornalismo desportivo, foi impossível não me deixar contagiar pelo ambiente de euforia que se vivia na altura. 


Se estivesse a entrar no mundo do jornalismo actualmente abdicava da sua vida pessoal para estudar no estrangeiro?

Há várias questões que se levantam nesta pergunta. Se estivesse a entrar no mundo do jornalismo, apostaria numa carreira em Portugal, tal como fiz quando comecei. Porque gosto de escrever e acredito que nunca o farei tão bem como na minha língua mãe. Estudar no estrangeiro também chegou a fazer parte dos meus planos mas, infelizmente, nunca passou disso. Se tivesse possibilidade, iria agarrá-la sem hesitar. Mas apenas porque considero importante a experiência e abertura de horizontes. Abdicar da vida pessoal é algo com que nos temos de confrontar a cada decisão que tomamos. Se estivesse a começar, era possível que o fizesse. Como fiz.

O que diferencia o jornalista de outras profissões?

Ora aqui está uma pergunta complicada. Da experiência que tenho - trabalhei noutras áreas antes de chegar ao jornalismo -, penso que o jornalismo, sobretudo o diário, é mais exigente no sentido em que não é possível parar o Mundo enquanto descansamos. As notícias estão sempre a acontecer e é preciso estarmos atentos para não sermos ultrapassados. Outras profissões haverá como o mesmo tipo de exigência.

Alguma vez se arrependeu de seguir jornalismo?

Nunca. Segui o meu sonho e sinto orgulho nisso.

Hoje em dia muitas pessoas trabalham apenas para receber dinheiro. Os jornalistas conseguem viver à base disso ou têm que ter amor à profissão, ou seja, gostarem do que fazem para conseguirem sucesso no trabalho?

Tempos houve em que ser jornalista era uma profissão bem paga. Já não é. De facto, é preciso gostar do que se faz quando o que se ganha não compensa o tempo que se tem de dedicar à profissão.

Qual o melhor momento que guarda no coração do 5ºandar do edifício do Diário de Notícias na Avenida da Liberdade, onde trabalhou 8 anos? 

Todos, mesmo os mais dolorosos, que também existiram. Trabalhar no 24horas foi um privilégio. Nem todos têm oportunidade de fazer parte de uma das melhores redacções que este País já conheceu. 

Considera o mercado televisivo português adequado ao nosso pais? 

Os telespectadores têm a televisão que merecem. Acredito que é possível educar os gostos televisivos, mas considero que a televisão portuguesa tem evoluído bastante e de forma positiva, sobretudo a nível de ficção. Temo que a crise venha prejudicar o caminho já trilhado.


Comentários

Anónimo disse…
É por estas pessoas que respondem à pergunta "Alguma vez se arrependeu de seguir jornalismo?" com "Nunca. Segui o meu sonho e sinto orgulho nisso." que eu sei que vou seguir jornalismo sem me arrepender: é o sonho :)

A propósito, boa entrevista.
Anónimo disse…
Olá,

eu penso que devemos seguir aquilo que gostamos verdadeiramente e, o que sabemos fazer,
pq a lógica de uma profissão não pode ser somente sob a perspetiva de mercado de trabalho senão...andávamos todos «ás turras».

: )
Bjs
Fica bem
Anónimo disse…
Uma boa entrevista :)
Vanita disse…
Obrigada Alexandre, por teres considerado que podia ter algo de interessante a dizer a alguém. E parabéns, pelo profissionalismo, rigor e, sobretudo, por seres um miúdo excepcional. De 14 anos! [eu sei, eu sei... mas há coisas que nunca mudam] :)
Maria disse…
Pois o meu sonho, igual ao vosso, levou-me ao subsídio de desemprego :/
Tentem o sonho, mas tenham algo mais realista como back up.

Maria

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