Como se um canhoto fosse um criminoso

No tempo em que se esperava pelo comboio, duas e meia da tarde, a estação praticamente vazia ouvia-se bem a conversa de duas senhoras.
Uma senhora, com os seus 60 e picos lamentava a porrada que a irmã tinha levado na escola por ser canhota. Descreveu ao pormenor o que acontecia à irmã naqueles dias, que para ela, eram infernais.
"No tempo de Salazar era assim. Os/as miúdos/as que fossem canhotos/as levavam por tabela. Ela começava a escrever com a mão direita, mas custava-lhe bastante e, quando se distraía e passava o lápis para a mão esquerda... reguada!"
Agora chegou a reviravolta...
"Agora são os alunos que se viram contra os professores. É bem feito, é muito bem feito."
E este foi o "bem-feito" mais vincado que ouvi na vida. Um bem feito de revolta dito pela senhora.
"É bem feito, para eles verem o que faziam sofrer os meninos."
Ahã, mas os professores não são os mesmos - pensei eu.
A outra senhora só dizia "pois é, sim, pois é, sim, pois, isto está mau, isto está mau, pois é, isto está de uma maneira que ninguém sabe..."

Conclusão [depois de já estar no comboio]:
A violência dos professores para os alunos era bastante má. A educação tem que vir de casa, mas muita coisa não se devia resolver em pancada.
E se a violência for sem razão aparente, ainda pior. Mas, actualmente se um professor ameaçar um aluno de um soco ou chapada nos dias de hoje era logo difamado, processado, despedido e tal, e tal.
E os alunos a baterem nos professores? Deve haver tantos, actualmente. Apenas conhecemos os que são publicados na imprensa ou na internet. É triste que assim seja. Violência... sinal de falta de educação e de civismo.

Já tinha falado deste assunto, aqui, num caso particular.
No entanto, a mulher tem todo o direito de estar enraivecida e tem toda a razão para isso, mas o "bem-feito" dito por ela por os alunos, actualmente insultarem e agredirem professores não deixa de ser triste. Estamos em democracia, em pleno século XXI, as mentalidades deviam estar mais evoluídas e é... uma grande mentira.
Grande parte dos jovens são mal educados para os professores. E eu vivi isso, nas turmas em que estive em anos anteriores. 

Comentários

Alex Fernandes disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Alex Fernandes disse…
E esqueci-me de mencionar que sou canhoto e com muito gosto. A minha vida escolar não seria fácil se tivesse nascido há uns anos...
Anónimo disse…
Completamente de acordo! :)
Turista disse…
Alexandre, a senhora tinha razão: os canhotos porque não escreviam com a mão direita, eram mal vistos e obrigados a escrever com a direita, no tempo de Salazar. Aliás tudo o que não era considerado normal, para os padrões salazaristas, era banido, escondido ou desaparecia. E ninguém se atrevia a questionar, sequer!
Depois passou-se para a atitude oposta: temos de ser todos condescendentes com os nossos semelhantes... e isso pode levar a muita coisa boa, mas também trazer algum desrespeito e falhas nos valores.
Beijinhos e bom fim de semana. :)
S* disse…
Também sou canhota e felizmente nunca me incomodaram com isso. :)
Bernardo disse…
Sábado - Feira # 04 - Especial
apontamento-bernardo.blogspot.pt/2012/04/sabado-feira-04.html
C*inderela disse…
Tudo o que fugia à regra era punido e visto como "desviantes". Como dizes, eram mesmo vistos como criminosos porque não se enquadravam na maioria.
O meu avô levou muitas reguadas quando andava na escola, eu felizmente estudei noutros tempos!
O nosso problema é que passamos do 8 para o 80, agora são os professores a temerem os alunos e pais.

Bjokas
Portuguesinha disse…
Humm... vivi o mesmo e já lá vão uns bons anos! Já estava nos 19 quando entrei numa turma cujo comportamento empalidecia para as crianças na creche...

A sra. do comboio está errada mas é de outra geração. Para ela os professores continuam como antigamente, os alunos é que aprenderam a ripostar. Não é verdade.

e outra coisa que se aprende é que o português, ainda mais o mais idoso, adora e só sabe apregoar: "isto está mal, cada vez pior..."

Por enquanto ainda vivemos bem. Mas sim, a levar em conta o exemplo exterior, esta sociedade vai mudar muito e a geração seguinte vai enfrentar dificuldades de empregabilidade e competitividade muito complicadas, além de viver mais "controlado" e privado de algumas coisas que hoje tomamos por garantidas.

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